terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

(Lição 11) Adolescência e drogas

Em meio aos conflitos típicos da adolescência, a droga surge como alternativa que oferece fuga da realidade, ilusão de onipotência e sensação de paz.
Por Sueli Menezes

Se por um lado o mercado das drogas está em crescimento, por outro lado está cada vez menor a faixa de idade dos adolescentes que entram nesse submundo. Para entendermos um pouco mais o porquê de cada vez mais jovens estarem envolvidos em drogas, precisamos antes falar sobre as modificações que ocorrem numa fase da vida pela qual todos nós passamos: a adolescência. Uns conseguem vivê-la sem problemas significativos, porém todos a vivem (ou viveram) com conflitos.

E é em meio a todos esses conflitos que a droga surge como um elemento capaz de solucioná-los. Oferece uma fuga à realidade e por alguns instantes, sob o efeito dela, se sente o todo-poderoso, "em paz", independente (pois se torna "onipotente de fato").

E é em meio a tantas mudanças, no afã de conquistar a tão sonhada independência, que se junta a grupos. E com medo de não ser aceito por eles, se submete às suas regras. A busca pela independência o leva a ser dependente das regras desse grupo e muitas vezes dependente da droga. É neste ajuntamento que ele consegue muitas vezes ser ouvido na sua "linguagem", pois para eles os pais são ultrapassados, caretas e não sabem nada da vida. Ocorre que muitas vezes a regra desse grupo é se drogar. E se em casa não houve um diálogo suficientemente capaz de envolvê-lo, ele facilmente, e fatalmente, cederá a essas regras. Vale ressaltar que se unir a grupos é extremamente saudável. O que não é saudável é negar-se, se despersonalizar em função do outro.

O adolescente/jovem se sente onipotente diante da morte e não teme nenhum risco que possa correr. Crê piamente que no momento em que resolver parar com a droga irá conseguir. Só que este mesmo jovem não conta com o poder destrutivo dessas substâncias, que atuará até mesmo na sua vontade em parar de usá-las.

A linha limite entre o prazer que a droga dá e a sua dependência é imperceptível. Quase invisível. E um simples prazer, até mesmo a nível social, pode levar a um caminho sem volta. O início é sempre inocente. Uma curiosidade..., um desejo de ser aceito..., a sensação de onipotência... O que não dá para acreditar é que um dia essa mesma droga tão prazerosa irá exercer um total domínio, e o fará totalmente controlado por ela.

Se drogas como cocaína, maconha, não são acessíveis, pelo seu alto custo financeiro, outras substâncias são utilizadas (como solventes). Permanece, portanto o mesmo objetivo: a busca pelo prazer imediato.

É inegável que as drogas proporcionam uma sensação agradável por um período de tempo, mas este mesmo objeto de prazer é capaz de levar a um caminho sem volta - a morte. A dependência química é um problema social que fica atrás apenas do desemprego e do atendimento à saúde.

A droga promove o afastamento da família, ansiedade, perda da saúde, perda dos amigos, decadência financeira, acidentes de trabalho e no trânsito, impotência, perda do autocontrole e em última instância a morte.

Especialistas no assunto estão cada vez mais convencidos de que é muito melhor e mais produtivo um trabalho de prevenção às drogas, de conscientização de seus malefícios. Pois o trabalho de recuperação muitas vezes não ultrapassa o índice de 30%, em clínicas de tratamento e nos hospitais-dia é de apenas 12%. Estatisticamente está provado que a terapêutica preventiva oferece resultados mais positivos e menos onerosos do que a terapêutica curativa. Ainda continua sendo "melhor prevenir do que remediar".

 O adolescente/jovem acredita ser onipotente, tem a sensação de poder desafiar a morte. É comum vê-los praticando esportes radicais, fazendo piruetas e dando saltos mortais sobre skates. Daí encontrarmos maior dificuldade em falar sobre os perigos das drogas com eles. Eles são "imortais", "invencíveis". Desafiar a morte é extremamente excitante para os jovens, dá prazer. E cada vez mais acreditam que exercem poder sobre as drogas, e têm a certeza que poderão parar com elas quando quiserem.

O uso social e a escalada para a dependência
O índice de usuários do álcool se encontra em maior escala, entre jovens da classe média-alta. Pois em suas casas existem bares abastecidos com todos os tipos de bebidas alcoólicas, e o uso social é o primeiro degrau na escalada da drogadição. O uso social do álcool e da nicotina está cada vez mais disseminado, pois são drogas lícitas, permissivas.

O índice de usuários dessas drogas, hoje, é maior do que da cocaína. A escalada da dependência começa com o uso experimental. Primeiro bebe por curiosidade, não tem padrão de uso. Depois, o uso social, só nos finais de semana, esporadicamente. Depois passa para o uso habitual, quando escolhe pessoas e lugares ligados à droga, não indo a festa, por exemplo, que não tenha bebida alcoólica. Depois passa a ser uso abusivo, por compulsão, pela busca ao prazer que a droga trás. Nessa fase inicia-se a perda do controle, dificilmente conseguirá parar. Até que por fim chega à dependência química.

De início a droga é prazerosa, e o usuário passará a vida inteira tentando resgatar o prazer inicial, mas não vai consegui-lo nunca mais. O uso daí pra frente será única e exclusivamente destrutivo. Vivemos na era do imediatismo. O crescimento da tecnologia nos remete a uma sensação de que temos que ter tudo aqui e agora. O prazer também "tem que ser" assim: imediato.

Se diante de alguma dificuldade o "mais prático" é fugir da realidade, a saída é se render às drogas, onde o prazer é imediato. Ocorre que as consequências do uso das drogas, nem sempre tão imediatas quanto o prazer que elas trazem. Mas é certo que virão e só trarão o oposto dessa tão sonhada sensação prazerosa.

A falta de limite tem sua parcela de responsabilidade nesse desejo desenfreado da busca pelo prazer. Muitos pais confundem autoritarismo com imposição de limites. Porém o limite na educação dos filhos é de suma importância. Não precisa ser autoritário, precisa se estabelecer regras, limites. Dizer não a um filho, o ensinará a dizer também não, amanhã, para as drogas.

Como identificar um usuário de drogas
Mudanças bruscas de comportamento: afasta-se dos amigos "caretas" (que não se drogam) e das atividades que exercia.
  • Falta de motivação para as atividades comuns.
  • Queda no rendimento escolar ou abandono dos estudos.
  • Perda de interesse por atividades antes favoritas (p.ex.: esportes que praticava).
  • Alteração do aspecto físico (desleixo): não faz a barba, não toma banho.
  • Presença de instrumentos necessários para consumo de drogas (seringas, canudos ou similar, etc.).
  • Alterações acentuadas no apetite: a cocaína faz aumentar o apetite e a maconha tira o apetite, pois a droga emite informação ao cérebro de que está alimentado.
  • Excesso de distração: tem sempre um aspecto "desligado", "vive no mundo da lua".
  • Desaparecimento de objetos de valor em casa ou no trabalho: o adicto precisa vender objetos para conseguir dinheiro para a droga.
  • Lesões e irritações nasais constantes: característica do usuário de cocaína.
  • Afecções físicas incomuns, tais como: hepatite, sangramento pelo nariz (a droga enfraquece o sistema imunológico).
  • Ausências de casa ou do trabalho repentinas e por longo tempo.
A presença de no mínimo três desses itens já é o suficiente para se identificar o usuário de droga.

É fato que as drogas atingem qualquer pessoa de qualquer credo, raça, cor, sexo e idade. Mas ela só alcança você, se você deixar ou quiser que isso aconteça. Nunca se considere imune a elas. Nunca duvide dos poderes que elas possuem. Amar a vida não é ser careta.

Autor
Sueli Menezes - Psicóloga Clínica
Extraído e resumido de:

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