quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

(Lição 11) Uso e abuso de drogas na adolescência

O que se deve saber e o que se pode fazer
Por Ronald Pagnoncelli de Souza e Tomás José Silber


Entre os estudantes de 1º e 2º graus, o álcool é também a droga mais utilizada (80,5% usaram pelo menos uma vez na vida, 18,6% usam frequentemente).

Seguem à distância:
  • o fumo (28% pelo menos uma vez na vida, 5,3% frequentemente)
  • os inalantes (17,3% na vida, 2,1% frequentemente)
  • os medicamentos psicotrópicos (tranquilizantes: 7,2% na vida, 0,8% frequentemente;
  • anfetaminas: 3,9% na vida, 0,5% frequentemente)
  • em último plano aparecem as drogas ilícitas, como a maconha (3,4% na vida, 0,5% frequentemente) e
  • a cocaína (0,7% na vida, 0,1% frequentemente)
Levantamento sobre uso de drogas entre estudantes de 1º e 2º graus em 10 capitais brasileiras (1993, dados do CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Escola Paulista de Medicina – www.cebrid.epm.br) informam que, entre os estudantes:
  • 80,5% usaram álcool, pelo menos uma vez na vida; 18,6% usaram frequentemente.
  • 28% usaram tabaco, pelo menos uma vez na vida; 5,3% frequentemente.
  • 22,8% usaram drogas psicotrópicas, pelo menos uma vez na vida; 3,1% frequentemente.
É muito difícil diferenciar a experimentação do uso frequente, do abuso e da adição ou farmacodependência, mas é possível fazer algumas generalizações:
  • quanto mais cedo um adolescente inicia o uso de uma substância, maior é a probabilidade do aumento na quantidade e na variedade do uso;
  • os adolescentes são comumente menos capazes de limitar o uso do que os adultos;
  • a experiência hoje é muito diferente do passado: o número de experimentadores é maior, surgem novas substâncias e combinações cuja sintomatologia se confunde. Além disso, as substâncias conhecidas são diferentes; por exemplo, a maconha nos anos 70 continha menos de 0,2% de THC e 20 anos após contém uma média de 6%, chegando a 14%;
  • o uso ilegal constitui um delito;
  • o jovem atribui à droga a solução dos seus problemas;
  • no início não há sinais e sintomas que levem os adolescentes a procurar orientação ou ajuda – esses sinais só aparecem como consequência do abuso e da dependência. Por isso, no começo é difícil que aceitem ajuda;
  • quando já aparecem os sintomas, o trabalho de reabilitação é difícil e frustrante, sendo baixo o índice de recuperação nos diferentes programas que trabalham com adictos;
  • os resultados dos levantamentos apresentados revelam objetivamente que estamos frente a uma doença grave, e a única forma de não adquiri-la é a prevenção.
Fatores de risco
Quem se encontra em situação de risco?
“Todos os adolescentes”. O fumo, o álcool e as drogas estão disponíveis, e a maioria dos jovens são objeto de pressão para o início de seu uso. Sem dúvida, alguns adolescentes estão em maior risco do que outros. Os três fatores mais importantes são a história familiar, o uso por parte dos pais e certas características individuais.

Vejamos os fatores mais comuns:
  • Pai ou parente próximo com abuso de substâncias ou dependência química
  • Fracasso ou dificuldades escolares
  • Baixo nível de autoestima
  • Personalidade agressiva ou impulsiva
  • Instabilidade familiar, falta de supervisão
  • História de abuso físico e sexual
  • Distúrbios psiquiátricos, especialmente depressão, bulimia e distúrbios de atenção
  • Influência de amigos e pressão do grupo
Um dos mais poderosos fatores predisponentes ao uso de substâncias é a influência do grupo de iguais. Um adolescente cujos melhores amigos usam o fumo, o álcool e outras drogas será mais facilmente levado a experimentar do que aquele cujos amigos evitam as drogas e não estão de acordo com seu uso.


Características do uso e abuso de drogas
Para detectar as características do uso e abuso de substâncias, é importante levar em consideração os seguintes aspectos:
  • se não perguntarmos a respeito do uso de álcool, tabaco e drogas, o adolescente não dará essa informação espontaneamente;
  • a fase de curiosidade e de experimentação com alguma substância pode ser considerada “normal” no desenvolvimento do adolescente;
  • a história natural do consumo de substâncias de primeira linha é aumentar seu uso, em seguida moderá-lo ou cessar (exceto fumo e álcool, se há história familiar);
  • o abuso costuma ocorrer dentro de um contexto de problemas de comportamento ou de doença psiquiátrica (depressão, distúrbio obsessivo-compulsivo, síndrome do déficit de atenção e distúrbios de conduta);
  • a morbidade e a mortalidade associadas ao uso de álcool e drogas são, fundamentalmente, mais devidas às condutas de alto risco, acidentes, homicídio e suicídio, do que pelas drogas propriamente ditas;
  • quanto mais sério o problema do álcool e das drogas, maior será a tendência de o adolescente esconder ou negar, tornando-se essencial obter informações de familiares e da escola;
  • os adolescentes que abusam, habitualmente, usam múltiplas substâncias;
  • passados os anos da adolescência e juventude sem o hábito de fumar e sem o uso de substâncias, muito menor é a probabilidade de uso futuro.
Prevenção – 10 regras para os pais
O Dr. Robert Du Pont, ex-diretor do Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos, recomenda 10 regras para os pais:
  1. Estabelecer um consenso familiar sobre o uso de substâncias: as regras devem ser comunicadas antes da puberdade. As crianças devem saber que seus pais esperam que na adolescência não fumem, não bebam, não usem maconha e outras drogas. Cada família deve estabelecer suas próprias regras, que devem ser repetidas com frequência.
  2. Estabelecer penalidades pelo não-cumprimento das regras: as punições não precisam ser nem repressivas, nem excessivas e devem ser anunciadas previamente e mantidas de forma consistente. Pode ser útil estabelecê-las com a participação dos filhos, no começo de sua adolescência. Exemplos: perda de privilégios, restrição ao uso do telefone, “proibição” de sair de casa, etc.
  3. Dedicar algum tempo diário para conversar com os filhos a respeito do que está se passando em suas vidas, como se sentem e o que pensam. Deve-se deixá-los falar livremente, não é necessário ter respostas, mas escutá-los atentamente, respeitando suas experiências e sentimentos.
  4. Ajudar os filhos a definirem objetivos pessoais: essas metas podem ser acadêmicas, esportivas e sociais. É importante ensinar os filhos a tolerar seus inevitáveis fracassos, que são oportunidades para crescer e não para desanimar.
  5. Conhecer os amigos dos filhos: conhecer também os pais, encontrar-se com eles e compartilhar conhecimentos.
  6. Ajudar os filhos a sentirem-se bem com suas próprias qualidades e com seus pequenos ou grandes êxitos: isto significa entusiasmar-se pelo que gostam.
  7. Deve haver um sistema estabelecido para a resolução de conflitos: nem sempre os filhos estão de acordo com todos os regulamentos da casa. A melhor maneira de manter a autoridade é estar aberto aos questionamentos dos filhos. Um recurso útil é incluir a consultoria com uma pessoa respeitada por todos (outro membro da família, um médico, um vizinho, etc.).
  8. Falar frequentemente e muito cedo com os filhos a respeito de seu futuro: os filhos devem saber que o tempo que viverão com seus pais é limitado, pois se tornarão adultos, sairão de casa e, neste momento, deverão pagar suas contas e estabelecer suas regras. Enquanto estiverem na casa dos pais precisarão aceitar sua autoridade.
  9. Deve-se desfrutar dos filhos: uma das maiores felicidades da vida é ter os filhos em casa. Tanto os pais quanto os filhos devem trabalhar para que o lar seja um ambiente positivo para todos. Isso significa trabalho de equipe e respeito mútuo.
  10. Ser um pai/mãe “intrometido/a”: é importante fazer perguntas aos filhos, onde e com quem estão. Esta informação é necessária para que sejam pais efetivos.
Autores:
Tomás José Silber
Professor de Pediatria, The George Washington University School of Medicine and Health Sciences. Diretor de Educação e Treinamento Médico do Departamento de Medicina da Adolescência e do Adulto Jovem – Children’s National Medical Center – Washington DC.
Ronald Pagnoncelli de Souza
Professor Adjunto IV do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Presidente do CENESPA – Centro de Estudos e Pesquisa em Adolescência.

Extraído e resumido de:

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